(Com nome Reparação e Bem Viver, evento ocorre na próxima terça-feira.)
“Foi um marco histórico, considerando que foi
a primeira marcha”, afirma a jornalista e militante do movimento negro, Jacira
Silva.
Naquele ano, cerca de 50 mil mulheres
marcharam na Esplanada dos Ministérios sob o tema Marcha das Mulheres Negras
Contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Mulheres que vieram de várias
partes do Brasil e que são esperadas, novamente, para ocupar as ruas da capital
federal.
E por que as mulheres negras ainda marcham?
Segundo as organizadoras do evento, ainda é preciso se mobilizar contra o
racismo e o sexismo que marginalizam as mulheres negras.
Dados do Ministério da Igualdade Racial
revelam que elas são o maior grupo populacional do Brasil. São cerca de 11,3
milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de pardas, totalizando 28% da
população total.
Ser o grupo mais populoso de uma nação não
significa proteção em relação a violências estruturais do nosso país.
Historicamente, as mulheres negras acumulam os piores índices sociais.
Em 2022, por exemplo, sete anos após a primeira marcha nacional, a taxa de analfabetismo entre as mulheres negras era de 6,9%, o dobro da taxa de mulheres brancas (3,4%).
Elas marcham também pelos direitos dos povos
tradicionais, pela preservação dos recursos naturais e de toda biodiversidade
brasileira; por reparação histórica pelas dores geradas pela escravização; por
um Estado que garanta os direitos de todas as pessoas; e por um modelo
econômico sustentável e pelo Bem Viver.
Anfitriãs
Em Brasília, os espaços de mulheres negras
estão se preparando há meses tanto para receber as participantes de outros
Estados, quanto para mobilizar as mulheres que, cotidianamente, estão em
contato com o trabalho realizado.
Um exemplo é a Casa Akotirene Quilombo
Urbano, na Ceilândia Norte, que fica a cerca de 30 quilômetros do centro de
Brasília e atende cerca de 250 mulheres, além de crianças e adolescentes que
participam dos cursos e atividades culturais ofertados pelo espaço, que existe
há sete anos.
Joice Marques preside a Casa e lembra que o
espaço ainda não existia na época da primeira marcha. Ela destaca a importância
e a alegria de poder marchar junto com as mulheres da Casa e as demais que
virão à Brasília.
“A gente tem feito algumas atividades na
casa, em parceria com as organizadoras da Marcha aqui no DF, em especial o
pessoal da área da saúde mental”, conta.
“Pra gente é uma imensa alegria marchar com
as mulheres da Casa Akotirene com as mulheres de tantos lugares do Brasil e de
fora do Brasil também. Pra gente é um momento histórico, que diz que, de certa
forma, estamos falando a mesma língua”.
Para ela, que está inserida no movimento
negro fazendo parte do debate, estar com as mulheres da Casa tem um gosto
especial. Isso porque, essas mulheres podem não estar dentro da academia,
pensando o movimento de mulheres negras nas instâncias formais, mas estão
dentro do território delas. "Também estão fazendo políticas de combate à
violência, de combate ao racismo, com a sua comunidade, com a sua família”.
A
casa e a rua
Na Casa Akotirene, as mulheres fazem cursos
de informática, de costura, de música, de exercícios corporais, de tranças e, dessa
forma, se descobrem negras.
“Eu sempre falo que, quando a gente está
dentro da nossa casa, a gente é só uma pessoa, é só uma mulher. Quando a gente
sai para rua, a gente já é uma mulher negra, então já tem uma subjetividade a
mais para gente”, aponta Joice.
“E aí a gente vive tudo isso no racismo
econômico, no racismo geográfico, no racismo dentro do mercado de trabalho. No
racismo que tenta deslegitimizar a gente todos os dias, dizer que a gente não é
capaz, que a gente não é intelectual suficiente. E eu acho que isso faz com que
a gente entenda o quanto o racismo, a estrutura, ela é perversa", conta
a educadora popular e produtora cultural que nasceu no Piauí e cresceu nas
periferias do Distrito Federal.
A gestora da Casa Akotirene se apresenta como
uma continuidade, um sonho dos seus ancestrais, tendo esse projeto com as
mulheres da comunidade como sua grande paixão. E sabe da importância de ocupar,
coletivamente, as ruas.
Nas mãos, elas vão levar um estandarte, feito
de forma coletiva, e que carrega os anseios e sonhos dessas e de tantas outras
mulheres negras que estarão em marcha por reparação e bem viver.
Com
Informações de Fran de Paula – Radioagência Nacional

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