UMA SOCIEDADE EM SEGURANÇA
Nós,
brasileiros, aprendemos que nossa cidadania é suficientemente exercida apenas
com reclamações nas redes sociais e nos transportes coletivos. As autoridades
já se deram conta disso e dão pouca importância para essas reclamações.
A
população fica passiva, com mais de quarenta mil assassinatos por ano, desde
1997. Foi nesse ano que o Brasil atingiu essa marca e nunca mais ficou abaixo
disso. Ao contrário, em 2017, alcançou calamitosos 65.602 homicídios. E tudo
transcorreu na maior “paz” do mundo.
Governadores,
secretários de segurança, ministério e muitos especialistas apontam todas as
formas de diagnósticos, mas a matança continua. Alguns defendem a ação
armada das polícias militares, que não tem sido suficiente, sendo o Rio de
Janeiro e, agora, a Bahia, provas de que somente o Estado matando não resolve.
Câmeras
nos uniformes têm diminuído substancialmente as mortes provocadas por
policiais, nos já famosos e duvidosos “confronto” e “resistência”.
Autoridades,
estudiosos e especialistas dão as mais variadas explicações para a continuidade
da violência em números estratosféricos e sem diminuição continuada. Os
principais argumentos são o baixo número de esclarecimento e punição dos
autores. Mas, mesmo que cem por cento fossem esclarecidos, as medidas relevantes
deveriam visar à prevenção. Afinal, seria muito mais relevante salvar dez mil
vidas do que punir 80 a 100.000 assassinos todo ano, já que, na maioria das
mortes, envolvem-se alguns ou vários autores.
A
criminalidade é um problema oriundo de vários fatores e não existe uma bala de
ouro para a solução. Mas, com certeza, a solução só virá com uma tomada de
posição decisiva dos governos, ao se decidirem por criar ações preventivas.
Sociedade
e governos encontram-se totalmente rendidos a todo tipo e nível de
transgressão, que começa com pequenas infrações sociais. Os flanelinhas dominam
as ruas próximas aos eventos e a opção, para o cidadão, é se render à extorsão
ou ter o carro danificado; os vendedores ambulantes, estes são encontrados nas
linhas públicas de metrô/SP, mas nas linhas particulares não se vê um único.
As
pichações são costumeiras em quase todos os prédios, em todas as cidades
brasileiras. Em alguns muros, são colocados pedidos para não picharem, alegando
que contribuem com determinadas instituições sociais. As calçadas e espaços
públicos são tomados por barracas, formando moradias. Com toda autoridade, as
pessoas particularizam um espaço público e o tornam propriedade privada. Os
bailes funks atravessam noites seguidas, sem nenhuma força oficial
capaz de pará-los ou de evitá-los. O mesmo acontece nas cidades pequenas e
médias, com os carros com seus “pancadões” engatados, que não permitem nem que
as pessoas conversem dentro de suas próprias casas.
E
a maior demonstração de rendição total é a Cracolândia/SP, que deve ter
começado com algumas poucas pessoas há trinta anos. As autoridades,
demonstrando aceitação e tolerância, e até sendo condescendentes, deixaram
transformar-se num problema grave, quase insolúvel, com milhares de pessoas
fumando, bebendo, roubando e todos somente assistindo. Mas os discursos, as
justificativas e os diagnósticos continuam...
Pedro
Cardoso da Costa
Interlagos-SP
*Pedro
costa Cardoso*
ALGUMA CONSIDERAÇÃO SOBRE MOVIMENTO SOCIAL
Os Movimentos sociais sempre tiveram um papel
importante no desenvolvimento da democracia, especialmente no Brasil, país com
inúmeras influências da cultura Europeia e Norte Americana. Observando a
trajetória do Movimento Social no Brasil, verifica-se que o povo se organiza em
tono de demandas com objetivos comuns, para isso utilizam os mecanismos e as ferramentas
disponíveis em cada região e para cada um dos objetivos e de acordo com as
categorias social da história, assim, por exemplo, surgiu o sindicalismo na
região do ABC, as “diretas já” que culminou com a derrubada de Fernando Collor
da presidência da República. Uma ferramenta importante para as organizações
tanto no passado quanto as atuais tem sido o papel da comunicação. As
dificuldades de antes, no que diz respeito á comunicação, principalmente quando
o Brasil ainda era considerado menos urbano, as pessoas demoravam muito tempo
para se mobilizarem, além disso, havia outras dificuldades tanto em decorrência
do meio utilizado quanto dos custos, pois as mobilizações eram feitas através
de cartas ou de “boca em boca” uma vez que o regime sempre procurou dificultar
a articulação e mobilização de pessoas.
A Internet vem se destacando atualmente
como uma das principais ferramentas nas mobilizações, isso porque além de ser
um espaço ainda democrático, atua de forma rápida e de baixo custo.
As redes
sociais vêm apresentando como dos maiores mecanismos de mobilizações,
especialmente se considerarmos os grandes avanços que esse tipo de mídia tem
aumentados nos últimos tempos. Considerando ainda, que as redes sociais podem
alcançar milhares de pessoas num período ínfimo de tempo. O que no passado, foi
realizado utilizando cartas, telégrafos e até mesmo mensageiro o que demandava
dias, semanas e até meses, hoje se consegue ultrapassar as fronteiras do
bairro, do Município, do estado ou do País em questão se segundos. As
Mobilizações do passado tinham muitas reivindicações, entretanto, havia uma palavra-chave:
“Liberdade”. Apesar das muitas conquistas, a liberdade ainda é uma das
reivindicações mais almejadas, especialmente quando se verifica a utilização
dos instrumentos de governo para dispersar as manifestações, notadamente quando
o governo se sente ameaçado.
É inegável separar as mobilizações da política,
entretanto, os movimentos atuais apesar das pessoas estarem mais politizadas,
seus organizadores não estão aceitando o envolvimento direto de politiqueiros,
especialmente aqueles que mantêm cargos, apesar de alguns partidos se infiltrar
nos movimentos na tentativa de ganhar espaços nas discussões dos mais
relevantes temas abordados nas bandeiras de reivindicações do Movimento social,
o que Aparece no primeiro momento, que boa parcela da sociedade não acredita
nos discursos da maioria dos políticos.
Rio Maria, Pará, 08 de setembro de 2013.
N. Neto
A BÍBLIA E HOJE/TEOLOGIA
OU SOCIOLOGIA
Utilizo emprestado
aqui, um pouco do texto da Bíblia, do livro do livro, (Lucas 14:15-24) em que Jesus falando aos
seus discípulos, narra uma parábola citando que um homem rico e importante
preparou um banquete e convidou seus amigos, a maioria deles homens importantes
da região, dentre os quais, (autoridades, fazendeiros, comerciantes,
empresários e muitas pessoas de destaque na sociedade daquele tempo). A
festa estava pronta, o banquete posto na mesa. As melhores iguarias e o melhor
vinho, tudo para celebrar um dia memorável. Contudo, os convidados, não
compareceram. Cada um apresentou um motivo. Enviaram mensageiros com as mais
diversas justificativas, bem de acordo com as funções de cada um: (Os
pecuaristas diziam que estavam ocupados cuidado do rebanho, os comerciantes não
poderiam fechar suas lojas, os empresários tinham que ficar comandando suas
empresas e as autoridades também podiam comparecerem, pois havias muitas questões
a serem por eles resolvidas.
Então o dono da festa,
ordenou aos seus criados que fossem as praças, nas estradas e nas encruzilhadas
e convidasse todos todas as pessoas que encontrassem. Assim, o salão ficou
repletos de pessoas, que participaram com alegria do jantar. Fato que jamais foi
esquecido.
Claro que a história
contada no Novo Testamento, parte da bíblia tem um sentido teológico, de
extrema importância para toda humanidade, e diz respeito aos ensinamentos de
Jesus/Deus. Não sou teólogo, uso o texto para descrever sobre assunto social,
também não sou sociólogo, apenas um observador dos acontecimentos do mundo onde
vivo.
Está é uma reflexão a
respeito da fraternidade e do valor da vida familiar, núcleo da comunidade. Oque
observo ao longo do tempo, permite dizer que deparamos que em muitas ocasiões, caso
parecido com o texto acima, acontece nos dias de hoje. Vemos famílias
numerosas, como muitos filhos e netos, dizer que não dispor de tempo na agenda
para encontros sociais e familiares, tempo para confraternizar entre si.
Inúmeros motivos, são alegados, as mais variadas justificativas são apresentas,
deixando para um plano uma oportunidade única da convivência entre os seus. Não
aproveitam a oportunidade que a vida oferece que Deus lhes concede a cada
pessoa. A maravilhosa oportunidade da convivência em família.
Quando Deus chamar
para a eternidade, nada mais importa, as fazendas serão administradas por
outras pessoas, as lojas fecharão em luto por alguns dias, depois será
igualmente administras por outros e da mesma forma todos aqueles que alegam
falta de tempo pelos muitos afazeres do dia a dia, verá que o tempo não volta. Pois,
cada ser humano tem um tempo, sem que saibamos, o tempo da existência chegará
em algum momento, não importa o tamanho da fazenda, da empresa ou da conta
bancaria.
Famílias,
independentemente do número de membros (pai, filhos, filhas, netos) pobres ou
ricos, analfabetos ou instruídos, confraternizam-se, alegrem-se, coma e bebam,
cantem e dance, cada um à sua maneira. Não deixem para se reunirem no funeral,
mas enquanto existem vidas e que a vida seja longa.
“Não deixa para fazer
amanhã o que você pode hoje, agora”
Rio Maria, 02 de julho de 2022.
(Jota Neto)
CONTO
UM ENCONTRO NO DESENCONTRO
É do
conhecimento da maioria das pessoas que existem no Brasil um bom número de
organizações sem fins lucrativos. No estado do Pará não é diferente. Essas organizações estão presentes em todos os municípios. São
entidades de personalidades jurídicas com os mais variados objetivos. Algumas
delas com propósitos e metas especificas e com dinâmicas próprias, nas quais os
associados se reúnem periodicamente para discutirem as suas
diretrizes e linhas de atuação.
Contudo,
nem sempre os membros destas organizações conseguem ter as mesmas visões de
mundo ou interesses pela conjuntura regional e nacional. Também é verdade que,
apesar dos seus membros conviverem na maioria das vezes próximos uns dos outros,
pode deixar passar a percepção de colaboração e solidariedade em alguns
momentos.
Certo
dia, um dos membros de uma tradicional organização saiu para resolver alguns
assuntos no centro da cidade, distante uns três quilômetros do bairro onde residia.
Saiu a pé, manhã de sol. Na bagagem levava
alguns documentos, ansiedade e muita esperança deque tudo seria resolvido
naquele dia.
Andava
apresado, pois havia muitos estabelecimentos a serem visitadas, inclusive umas
duas agências bancárias.
O sol
esquentava à medida em que as horas iam
passando. Visitou uma, duas, três lojas, depois seria o banco. Assim foi
cumprindo a agenda naquele dia. As ruas estavam movimentadas. Asfalto estava quente como uma chapa de aço. Enfim, tudo resolvido e hora de voltar para casa. Cansado, mas contente por
ter cumprido todas as tarefas daquele dia.
Na
cidade não há transporte público. Também não havia sobrado dinheiro para o
moto-taxi. O jeito era seguir a pé. Procurou então
uma das avenidas que lhe pareceu ser o melhor caminho em direção a sua casa.
Exausto, caminhava em passos lentos. Encontrou
muitos conhecidos. Um bom dia aqui, outro ali. Um olá, de um e um oi, de outro!
Chegou a pensar que algum daqueles conhecidos pudesse lhe oferecer uma carona
até perto de sua casa. Mas nada! Um dos colegas
de sua organização passou de moto, e piiiiii! Outro colega também de moto, nem
sinal deu. Da mesma forma passaram outros três
membros de sua organização. Apenas piiiiiii! Em seguida, mais dois
membros da mesma instituição passam de carro, mas também não ofereceram carona.
Apenas um deles teve a dignidade de acenar com a mão. Um destes dirigia
justamente para o mesmo bairro. Morava a uma quadra distante de sua casa.
Paciência!
Com os
pés doloridos e já desanimado e sem esperança de carona continuou com passos
lentos, quando então resolveu parar por alguns
minutos para recobrar um pouco de energia. Havia um posto de combustível na
esquina daquela rua, junto dela uma frondosa árvore que oferecia sombra que
parecia convidá-lo para uma pequena parada.Parou. O suor escorria pelo rosto,
os pés doíam e a sede também chegou. Ficou imóvel com os olhos fitos nos
veículos que seguiam em todas as direções.
Um
dos carros parou em sua frente. A porta do
veículo se abre. De dentro sai uma mulher elegantemente vestida e com os braços
abertos segue em sua direção. Rosto alegre e um olhar de extrema alegria. Alma
iluminada de felicidade exclama: - Oh! Meu Deus! Você aqui? Quanto tempo! Quase
dez anos sem noticias. Hoje te encontro! Maravilhoso!
A
chegante ainda pergunta: - me diz, o que faz
parado aqui nessa rua?
Tudo
isso ocorre entre abraços e sorrisos. Entraram
no carro e seguem pela rua. O veículo rodava lentamente, mas as perguntas
surgiam sobre postas, afinal, havia muitas historias para serem contadas. O
reencontrou durou toda tarde daquele dia. Afinal foram dez anos distantes.
De
fato, uma amicíssima que havia mudado da cidade há um bom tempo. Naquele dia,
justamente naquele dia, estava passando pela
cidade e resolveu ir até ao posto de combustível reabastecer
o carro. Parece que guiada pelo destino ali estava para um reencontro com
alguém muito querido. Foram tantos abraços. Mútuos abraços, que o sofrimento do cansaço foi esquecido naquele
momento. Foram momentos agradabilíssimos. Muitos papos, confidências e
recordações os quais não seriam possíveis se algum “daqueles colegas” tivesse
oferecido uma carona. Podemos dizer então, que foi
um “encontro no desencontro”.
O
fato narrado nos impulsiona indicar alguns pontos que
podem, talvez, ser vividos pela maioria das pessoas nos últimos tempos. Dentre
eles, a vida agitada e agendas cheias de muitos compromissos. Além disso, o
quanto o acesso às redes sociais pode facilitar a comunicação, mas ao mesmo
tempo dificultar a interação entre as pessoas. Como é possível perceber no
episódio narrado, alguns personagens demonstraram incapacidades em perceber a aflição e a dificuldade da pessoa que caminhava a pé em encontrar uma carona para casa,
demonstrando assim, a pouca interatividade, embora fossem da mesma organização
social. Pode-se dizer também que faltou, talvez, certo senso de humanidade, de solidariedade
e amizade.
Ademais!
Se um caso desses acontece em uma cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, quantos
episódios idênticos não acontecem nas grandes
metrópoles?
Final
da história! É como já diz um ditado popular, muito conhecido, por sinal: “há
mal que vem para o bem”!
É
notório que as caronas são gestos de solidariedade para com os nossos semelhantes, entretanto, em algumas
ocasiões elas podem ser perigosas,
principalmente nos tempos atuais em que algumas pessoas utilizam da boa vontade
de quem que está no trânsito para cometerem
crimes. Vivemos tempos de individualismos e de imediatismos, situações que nos levam a desconfiar até da própria
sobra.
Mas
a dor que separa pode ser a mesma que pode unir
as pessoas. Além disso, podemos planejar a vida da melhor
maneira possível, mas os fatos podem mudar a
qualquer momento, seja para o bem ou para o mal. Que amemos uns aos outros!
*Correção de texto: Airton dos Reis Pereira
Professor da (UEPA) Universidade do Estado do Pará
Campi Marabá, Pa.
Feliz Natal
Rio Maria, 14/12/2019
Jota Neto
CONTO
A Passageira da
BR-155
A viagem está preste a começar. Você chega à
rodoviária, encontra aquela que será sua companheira de poltrona naquele dia.
Querendo ser gentil e sociável, pergunta:
-A senhora está esperando a quanto tempo?
-Uma hora, hora e vinte mais ou menos!
- É, faz um tempinho...
O carro chega, o motorista anuncia: sairemos
em cinco minutos.
A colega de poltrona olha à sua volta, aproveita
o último minuto antes de iniciar a viagem, corre até a lanchonete mais próxima,
compra um refrigerante em lata, um lanche (salgado daqueles com salsicha) tipo
cachorro quente, contudo, não tem nada de cachorro e muito menos de quente.
Todos os passageiros já estão acomodados em
seus respectivos lugares. A colega de poltrona entra apressada com o lanche nas
mãos. Senta e logo dá uma vigorosa mordida no lanche. A salsicha salta entre as
massas do pão, exala um odor de margarina e milho azedo. O molho escorre pelos dedos
de unhas pontiagudas. A passageira move o maxilar energicamente, come e sorve o
refrigerante... arrota várias vezes em seguidas! Hum! Que delicia!
O viajante ao lado finge dormir. Apenas
finge porque tudo observa.
A colega de viagem termina o lanche, mas
ainda falta muito para se recompor. Abre uma de suas bolsas e inicia uma busca
frenética. Em pouco tempo encontra uma pequena toalha que usa para limpar os
lábios e o suor da testa. Encara o vidro embaçado da janela fechada. Não
conformada com o que vê resmunga e volta a mover os braços para o fundo da
sacola. Depois de um mexe e remexe, suspira e...
- Há,te encontrei danadinho!
O “danadinho” em questão é um pequeno batom
vermelho descorado como a salsicha mal cozida...
Remexe novamente a bolsa e retira de dentro
um pequeno espelho no qual mira para retocar a maquiagem dos lábios ainda
brilhantes da gordura do lanche. Passa uma, duas, três vezes... Movimenta os
lábios em forma de ó, repete o batom outras três vezes.
Mas um novo ataque à bolsa de viagem indica
que o trabalho ainda não terminou. Mais uma vez mexe e remexe. Pega um óculos
escuro, daqueles de banca de camelô, coloca no rosto e repete a mesma ação de olhar
pela janela do carro que se movimenta pela estrada. Um meio sorriso indica que está
contente com o que vê.
Repousa os braços na poltrona e cochila ao
som do motor e do balanço do veiculo que parece acelerar ainda mais.
A viagem continua. O carro devora a estrada.
Os vultos das vilas, casas de fazenda, acampamentos e assentamentos de
trabalhadores rurais passam em frente às janelas como miragem. Residências,
currais e casebres de ambos os lados compondo a paisagens da BR-155(antiga
PA-150), rodovia federal que interliga redenção à Marabá. A via é federal, mas
os impostos e os buracos são divididos entre os governos federal, estadual e
municipal.
Quem viaja de vans ou micro-ônibus sabe que
este tipo de transporte não dispõe de banheiro. No sul do Pará não é diferente.
Em caso de necessidades o jeito é usar o mato às margens da estrada.Foi o que
aconteceu.
A viagem segue mais ou menos tranquila até
que a colega de poltrona acorda abruptamente. Semblante descorado e suado,
apesar do ar condicionado do veículo. Levanta meio corpo pergunta ao condutor:
-Motorista, onde é a próxima parada?
-É no “Gogó” (Vila Rio Vermelho).
-Não para no 70? (localidade conhecida por
Posto 70).
-Não!Já passamos o setenta!
A passageira suspira.
-Vige nossa senhora! Santo deus! O Sr. pode
fazer uma paradinha pra mim moço?
- A senhora vai descer aqui neste trecho,
parece deserto? Onde a senhora quer parar?
-Vou descer sim, mas é por alguns minutos.
- Onde a senhora prefere parar? Pergunta o
motorista.
- Uai, em qualquer lugar moço! Só não pode
ser no descampado, né?!!!
-Ok!
O motorista dirige para o acostamento
improvisado.Depois de algumas freadas bruscaso veiculo diminui a velocidade, a porta
se abre e lá se vai a colega de poltrona pelo mato adentro.
O leitor já pode imaginar o que ela vai
fazer, é claro! Deve estar imaginando também que o lanche ingerido ainda no início
da viagem certamente não devia estar em boas condições de consumo,
principalmente porque foi engolido quase que por inteiro e às pressas. Desse
modo pode causar um desarranjo intestinal, além de outras conseqüências ainda
mais graves. Sem dúvida foi o que ocorreu com a colega de poltrona.
A maioria dos passageiros já
estavaimpaciente pela demora da parada imprevista.
Depois de uns oito minutos e algumas
buzinadas, a senhora sai do meio do “braquiara” e retorna ao carro. Chegou com
sinais de fraqueza e de desolação. Entrou em silêncio e em silêncio permaneceu
um bom espaço de tempo. O motorista acelerou de tal forma que logo ultrapassou
o limite de velocidade permitida pela legislação.
O condutor, para compensar os minutos da
parada, usou quase toda potência do motorcolocando em risco a vida dos passageiros.
Poucos minutos depois já se via alguns pontos brancos e marrons dos telhados
das casas do “Gogó”. Gogó ou Gogó da Onçaé o nome popular da Vila Rio Vermelho.
É um povoado localizado às margens do rio Vermelho, municipio de Xinguara, no
sul do Pará. Alié ponto de parada habitual dos vanzeirose de caminhoneiros que trafegam
pela BR-155. Os Vanzeiros param em média de cinco a dez minutos em uma pequena
lanchonete construída no canteiro central da via que corta a cidade.Destavez informou
que a parada seria de apenas cinco minutos para um cafezinho.
Quase todos os passageiros desceram. A
colega de poltrona que havia ficado muda até então, permaneceu imóvel dentro da
van.
Decorrido os cinco minutos a buzina entrou
em ação para chamar a atenção dos passageiros que insistiam ganhar mais algum tempo
fora do veículo.
O carro retornou a estrada. A colega de
poltrona parecia quase que inerte durante o percurso entre a Vila Rio Vermelho
(Gogó da Onça) e Sapucaia. Mas quando o veículo ultrapassou as últimas casasda
vila foi o sinal para a colega de poltrona despertar. Pegou o telefone e discou
uma, duas, três vezes até que alguém do outro lado da linha atendeu.
Todos os passageiros se assustaram ao ouvir
o timbre e o tom potente daquele alô:
- Oi, aqui é a mamãe. Estou chegando
filhinha. Prepare a janta logo, pois a mãe está com uma fomeeee.
-???
- Há sim... sim, sim! Você está bem filha?
-???
-Hummm. Ok! Alô filha ia me esquecendo: tem
salsicha pro jantar?
-???.
-Não?! Compre fiado. Ora, ora, pega
emprestado, sei lá! Dá seu jeito! Meia sorridente desliga e guarda o telefone.
-A senhora parece bem cuidadosa com a
família, pergunto.
-Se sou! Não agüento ficar muito tempo
longe da família. De três em três meses eu venho. Fico três dias. São apenas
três dias para colocar todos na linha. Meus filhos... (sorrindo). Tenho três. Um
menino e duas meninas, de 9, 11 e 15 anos. Eles me conhecem! Comigo não tem
conversa!
- Ainda bem que são apenas três dias, múrmuro
com os meus botões! Cidade de Xinguara, ponto final do trajeto.
J. Neto
Rio Maria (PA), 10
de março de 2018.
TODOS TÊM DIREITO ÀS FÉRIAS E FÉRIAS DE TODOS
Todos têm direito às férias? Correto?
Eu concordo. Você também concorda, com certeza, não?
Então vamos pensar!
Você quer sair de férias, tudo pronto, tudo agendado. Escolheu o itinerário e ansioso para visitar os lugares mais lindos e plausíveis.
Acorda cedo, vai à padaria para comprar o leite e o pão para o café da manhã, afinal para fazer uma boa viagem precisa estar bem alimentado.
Chega à padaria, mas encontra a porta fechada com um cartaz avisando: “estamos todos de férias!” Você pensa: “está certo, afinal todos tem direito às férias”.
Você volta para casa afim de preparar o café da manhã com o que tem na geladeira, mas o gás acabou. Então pega o telefone e liga para a distribuidora de gás, mas recebe de volta uma mensagem gravada: “a sua ligação não pode ser atendida, estamos todos de férias!”
Você então desiste do café já pensando:“vou comer alguma coisa na estrada”. Pega o carro e segue até ao posto de combustível mais próximo, afinal sair de férias requer carro com tanque abastecido. No posto depara com o pátio vazio e um cartaz dizendo: “não estamos atendendo estes dias porque todos estão de férias”. Volta a refletir: “não posso ir de carro, então vou de ônibus, é claro”! Mas na rodoviária a situação também não é diferente. Encontra as portas fechadas e com cartazes explicando os repetidos motivos: “não há atendimento por estes dias porque todos saíram de férias”!
Aí você desiste da viagem e volta para casa pensando:“ora todos têm direito as suas férias”! Chega em casa, toma um copo de água e liga a TV para assistir um bom filme, afinal você está de férias e não quer perder o seu bom humor!
Que bom pelo menos ainda tem energia elétrica. Liga sua TV de 42 polegadas e na tela aparece um aviso em letras garrafais: “não apresentaremos o programa hoje porque todos estão de férias”!
Então corre e liga o rádio e... pimba! Dali saí um áudio que repete: “obrigado por ter nos sintonizado, mas não apresentaremos a nossa programação normal porque estamos de férias”!
O que fazer? Você não se deixa por vencido: “todos estão de férias, mas há uma saída. Navegarei na internet”. Mas em todos os sites e todas as páginas também aparecem os mesmos dizeres: “desculpa-nos, estamos de férias”!
Bem, vamos pensar. Todos têm direitos às suas férias. Mas para que as suas férias ocorram de verdade outras pessoas precisam estar trabalhando, pois do contrário o mundo para, tudo para, lembre-se disso.
Muitos trabalhadores dos mais variados seguimentos da economia trabalham para que também outros tantos profissionais possam gozar do direito às férias tão duramente conquistado na década de 1940. Quando você estiver nas suas merecidas férias procure ser gentil, atencioso e solidário com as pessoas, seja na padaria, no posto de combustível, na estrada, na rodoviária, no aeroporto, no hotel, na praia ou em qualquer lugar, pois se você está de férias é porque outras pessoas estão trabalhando.
Uf! Ainda bem que isso é apenas um conto. Boas férias!
Opa! Só escrevi porque não estou de férias!
Rio Maria, 28 de dezembro de 2017. (J. Neto (João Martins Neto)
Educador popular e diretor da Rádio Comunitária Berokan FM - Rio Maria.
Correção de texto: Prof. Airtom dos Reis
O Pará é o maior
Até parece que o
nome Pará é pequeno. Tem apenas
quatro letras, mas de um significado grandioso. É de uma pretensão igualmente
grandiosa. Quase tudo que se refere a esta unidade da federação parece que tem
que ser maior do que nos demais estados brasileiros. Encostado na parte de cima
do mapa, o Pará é uma das 27 unidades federativas do Brasil. É o segundo maior
estado do país com uma extensão de 1.247.689,515 km², maior que Angola,
país africano. Dividido em 144 municípios é o mais populoso da Região Norte.
Seria talvez por isso que quase tudo nesse estado indica ser demasiado grande?
Listaremos aqui alguns. Grandes, ruins, pequenos, bons, maléfico ou benéfico.
Para alguns, para outros.
Alguns pensam e
falam que este estado é grande demais. Resolveram então dividi-lo em três
pedaços. A Câmara dos Deputados já aprovou o plebiscito. Querem fatiá-lo em Pará, Carajás e Tapajós. O que
mudará para o povo? Só a história dirá.
O certo é que a
grandiosidade parece ganhar relevo. Se for referendada a divisão do estado, o
certo que cada um desses novos estados continuará com a sua mania de
grandiosidade. Filho de peixe, peixinho é. Não é por menos que os
acontecimentos ao longo da historia tem condições de elevar ou denegrir a
imagem do paraense na mídia e junto à opinião publica. Dos paraenses ou de
alguns paraenses? Mas o certo que o estado do Pará começou sendo o segundo
maior estado da unidade federativa do Brasil em extensão territorial e detém o
título de maior possuidor de ilha fluvial do mundo. Quem nunca ouviu falar na
Ilha de Marajó? O Pará possui uma das maiores hidrelétricas do mundo a começar
pelo tamanho do lago. A barragem de
Tucuruí tem 2.430 Km². Mas o Pará está marcado a ser um dos estados com maior
número de hidrelétricas e uma população camponesa condenada pelas barragens. Pelo
mapa das barragens do Ministério de Minas e Energia o Pará vai virar um
dilúvio.
Mas Noé
provavelmente não aparecerá com sua barca para socorrer os desvalidos.
O maior continuará
sendo maior.
O Estado do Pará
vem representando sua grandiosidade desde o tempo do Brasil Colônia. Foi no
estado do Pará que aconteceu o maior genocídio de populações indígenas; foi
nesta unidade da federação que houve também o maior numero de índios
escravizados da história. Quem sabe se não foi por isso mesmo que aconteceu nesse
estado uma das maiores revoltas populares denominada Cabanagem no período do
Império? A Guerrilha do Araguaia permanece na memória de muitos brasileiros:
homens e mulheres. Foi um episódio que ganhou o mundo!
É no Pará que
existe o mercado Ver-o-Peso, uma das maiores feiras livres, cartão postal de
Belém. Não é grande?
A grandiosidade do
estado do Pará e da região da Amazônia é demonstrada desde quando os europeus
aqui colocaram os pés pela primeira vez. Foi o inicio de sua exploração.
Começou sendo um dos grandes produtores de extrativismo: cacau, baunilha,
canela, salsaparrilha. A borracha extraída da seringueira (Hevea brasilliensis) e do caucho (Castilloa ulei) e em
seguida passou a ser o maior produtor de castanha-do-pará, produto conhecido
inclusive mundialmente. Grande foi o sofrimento dos povos indígenas.
É no Pará também
que existe a maior reserva mineral do mundo. É o atual maior exportador de
ferro do Brasil. Todos os dias milhões de toneladas saem da Serra de Carajás. A
cratera a onde existia a serra de minério já é uma das maiores do mundo também.
O Pará está entre os maiores produtores de ouro. Serra Pela que o diga! A
quantidade de garimpeiros que sofreu também é maior.
Até ai parece que
está tudo bem.
Pode até ser!
Mas o Pará é o estado
onde se tem o maior número de latifúndios improdutivos embora que seja
considerado o maior exportador de boi em pé. Mas casado à pata do boi está
grande parte do desmatamento e do trabalho escravo. Não é por menos que o Pará
é considerado um dos campeões do desmatamento. Mas os maiores do Pará não
deixam de vangloriar que é o estado que mais se exportou madeira nobre, em
especial o mogno. Mas é o maior estado onde não se repõe a floresta nativa.
Além disso, o Pará
foi um dos estados que mais se beneficiou com recursos dos incentivos fiscais
da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) em projetos
agropecuários, mas foi também no estado do Pará que mais se ouviu falar em
desvio de recursos públicos dessa instituição.
Segundo o Mapa da
Violência do Conselho Nacional de Justiça, divulgado recentemente, a cidade de
Marabá, no sudeste do Pará é uma das cidades brasileiras mais violentas. Mas
Itupiranga e Jacundá, tão minúsculas são de números grandes. E quem não se
lembra de Rio Maria nos anos 80 e 90? Estão também entre as cidades com taxa de
homicídios volumosos.
O Pará é ainda
considerado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o campeão em utilizar
mão-de-obra escrava. Todo ano está no pódio da escravidão contemporânea. Também
é o campeão em assassinato de trabalhadores rurais em luta pela posse da terra,
inclusive de religiosos e defensores dos direitos humanos.
As informações da
Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Ouvidoria Agrária do Ministério do
Desenvolvimento Agrário são cada vez mais alarmantes e assustadoras. Como o
Pará é maior!
Quase todos os que
foram assassinados haviam denunciado às autoridades que sofriam ameaças de
morte. Muitos inclusive estavam incluídos em uma lista dos marcados para
morrer. Destes alguns nomes conhecidos avolumavam as páginas de renomadas
organizações nacionais e internacionais de direitos humanos como a Comissão
Pastoral da Terra, o Comitê Rio Maria, a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil, a Terra de Direitos, a Anistia Internacional, a Comissão de Direitos
Humanos da OEA, entre outras. Entre os
assassinados estão os sindicalistas e mártires como Raimundo Ferreira Lima (o
Gringo), José Dutra Costa (o Dezinho), João Canuto de Oliveira e seus filhos, Paulo
e José Canuto, Expedito Ribeiro de Souza, Renan Ventura, Belchior Martins da
Costa, os advogados Gabriel Pimenta e Paulo Fontelles, as religiosas Irmã
Adelaide e Irmã Dorathy Stang, e recentemente o casal extrativista José Claudio
Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo grandes defensores da natureza e da
vida.
É no estado do Pará
que também aconteceu o maior e mais cruel massacre de trabalhadores rurais da
história conhecido como “Massacre de Eldorados dos Carajás” quando 19 sem
terras foram mortos pela Polícia Militar.
Grande parte das
mortes foi anunciada, premeditada e a maioria das autoridades estaduais,
municipais e federais sabia.
Coincidência ou não
as mortes de maiores repercussões aconteceram durante os Governos do PSDB.
Parece que os fatos se repetem. José Claudio e Maria do Espírito Santo foram
mortos após denunciarem várias vezes às ameaças que sofriam inclusive um
atentado. No entanto as autoridades dizem nada saber. Parece que fecharam os
olhos e os ouvidos. Outra “coincidência” foi fato de o casal de ambientalistas
terem sido assinados justamente nos dias em que a Câmara dos Deputados votava o
novo Código Florestal Brasileiro. Houve ligação entre os fatos? Ou seu assassinato tenha sido apenas uma
demonstração de poder daqueles que são contra a natureza e visando unicamente o
lucro?
Este é um poder que
há muito tempo vem criminalizando os movimentos sociais, em especial os
movimentos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, inclusive aqueles que
defendem a floresta e uma vida melhor para todos.
Este crime bárbaro
aconteceu em um momento em que a mídia divulgava o maior escândalo jamais visto
no legislativo estadual. Poderia este fatídico desviar a atenção e o foco do
escândalo da Assembléia Legislativa? O Pará é grande também nisso! Decerto uma
coisa ninguém duvida: foi um crime de encomenda. Não bastou a exposição dos
corpos à beira da estrada vicinal durante horas. Os pistoleiros mutilaram uma
das orelhas de José Claudio e levaram como prova do crime. A opinião publica
nacional e internacional está aguardando as respostas das autoridades
brasileiras.
As dúvidas quanto
ao trabalho sério e competente por parte da Polícia Paraense está em evidência.
Há muitas dúvidas e perguntas. Não basta a amplificação na imprensa afirmando
toda hora que há contingente X ou Y fazendo as investigações. É preciso que os
assassinos e mandantes dos crimes sejam presos e condenados. Próximo onde o
casal extrativista foi morto outro trabalhador foi assassinado. Não foi queima
de arquivo o assassinato de Herenilton Pereira dos Santos? O povo paraense está aguardando. O estado do
Pará quer ser grande também na efetivação da justiça e na realização da paz.
Outra coincidência
foi o recente massacre dos 10 trabalhadores rurais na fazenda Santa Lucia, em
maio de 2017, município de Pau D´Arco, em que ficou confirmado -através da
pericia e oitiva de sobreviventes-, a participação do envolvimento de órgão do
governo do Estado (PSDB).
A Sociedade
Paraense, nacional e internacional continua com a mesma pergunta: os fatos registrados
até então, são meras coincidências?
Correção de texto: Prof. Airtom dos Reis
Atualizado
em 09 de Janeiro de 2018
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