(Fotos: Divulgação)
Um
projeto realizado com extrativistas do Distrito de Ouro Branco, município de
Itiquira, tem transformado o látex extraído dos seringais em novas
oportunidades, com o talento criativo de mãos femininas, que transformam o que
a floresta oferece em arte, renda e dignidade.
O
projeto "Borracha: viabilidade econômica, social e ambiental a
partir da renovação sustentável do seringal", financiado pelo Programa
REM MT e executado pela Cooperativa de Seringueiros de Ouro Branco (COOPSOB),
já celebra resultados expressivos na comunidade. A iniciativa vem promovendo o
fortalecimento da cadeia produtiva da borracha com foco na sustentabilidade, na
inclusão de mulheres e jovens e na valorização de produtos da
sociobiodiversidade, como as biojoias.
O
projeto foi estruturado para enfrentar desafios históricos da região, como o
envelhecimento dos seringais, a ameaça do avanço da monocultura e a necessidade
de diversificação produtiva. A partir de ações estratégicas, a COOPSOB
conseguiu não apenas iniciar a renovação das áreas de cultivo com a implantação
de um viveiro com 70 mil mudas de seringueiras, mas também introduzir culturas
complementares, como café, mel, maracujá, banana, cacau e espécies nativas do
cerrado.
PROTAGONISMO
FEMININO E BIOJOIAS
O
projeto impulsionou a criação do grupo Flores da Seringueira, que se tornou
símbolo do empoderamento feminino na cooperativa. As mulheres ganharam
protagonismo não apenas na produção, mas também em espaços de fala e decisão.
Em uma das oficinas de avaliação, a apresentação dos resultados foi conduzida
exclusivamente por participantes femininas, demonstrando a transformação gerada
pelo projeto.
Com
o apoio de uma consultora especializada e a aquisição de equipamentos, as
mulheres do grupo desenvolveram brincos, colares, pulseiras, tecidos
emborrachados, anéis, bolsas e carteiras. A venda desses produtos em feiras e
eventos, com apoio logístico garantido por um veículo adquirido pela
cooperativa, ampliou a visibilidade e o valor agregado da produção.
“Quando
a gente começou o projeto, não tínhamos essa atividade de produção de biojoias.
Hoje, esse trabalho já se perpetuou e conseguimos dar visibilidade para as
mulheres e jovens que antes estavam no anonimato. Esse era um desafio muito
grande da cooperativa que conseguimos superar com o projeto”, destaca Rubens
Soares Ribeiro, coordenador do projeto.
Cristiane
Silva, diretora da COOPSOB, afirma que o projeto revelou talentos antes ocultos
dentro da própria comunidade: “Com o projeto do REM, a gente descobriu novos
talentos da comunidade, que a gente não sabia que existia. Então, foi uma
descoberta do projeto, que trouxe isso pra gente. Além de fomentar a parte de
comércio, a gente acabou estendendo para essas mulheres e jovens que estavam
invisíveis”.
OUTRAS
AÇÕES DO PROJETO
Além
da produção de biojoias, o projeto promoveu a comercialização de 796 toneladas
de borracha, gerando um faturamento bruto de cerca de R$895 mil. A aquisição de
parceiros comerciais foi essencial para equilibrar a queda na produção interna
e expandir os canais de venda, fortalecendo a parte comercial da COOPSOB.
O
projeto também incorporou práticas sustentáveis e tecnologias de baixa emissão
de carbono, contribuindo para a conservação ambiental e a proteção dos
seringais. Foram realizados dois dias de campo voltados à difusão de
tecnologias sustentáveis, além de reuniões estratégicas com os Grupos de
Trabalho do Viveiro e das Mulheres, fortalecendo a gestão participativa e o
engajamento comunitário.
O
carregamento da borracha nos caminhões de transporte era realizada manualmente.
Com o recurso do projeto, a cooperativa pôde desenvolver implementos que
mecanizaram o processo, trazendo melhorias na qualidade de vida dos
seringueiros e maior segurança, além de otimizar o trabalho de pesagem.
Um
viveiro foi estruturado com sistemas de irrigação e rede de captação de água,
passou por diversas etapas, desde a construção inicial e germinação das
sementes até a poda pós-enxertia. Além das mudas de seringueira, foram
cultivadas 17 mil mudas de café, 4 mil mudas de maracujá, 800 de banana, 200 de
cacau e 200 de espécies nativas, atendendo à renovação e diversificação dos
plantios em mais de 100 hectares, incluindo 37 hectares destinados a Sistemas
Agroflorestais (SAFs).
Com
foco no fortalecimento da governança e na qualificação dos cooperados, foram
realizados três módulos de formação em cooperativismo, oficinas de segurança do
trabalho e uso de EPIs, além de capacitações específicas para 21 mulheres na
produção de biojoias. No total, 115 pessoas foram beneficiadas diretamente,
sendo 43 mulheres, 62 homens e 10 jovens.
Priscila Soares (REM MT)