(Pesquisa vai investigar impacto das mudanças do clima nas comunidades)
(Fotos: Fernando Frazão e Ravena Rosa/Agencia Brasil)
Em
parceria com a Universidade de Glasgow, no Reino Unido, três universidades
brasileiras vão conduzir uma pesquisa para propor formas de reduzir o impacto
das mudanças climáticas nas favelas brasileiras. O grupo de pesquisa vai
se debruçar até 2027 sobre comunidades de Natal (RN), Curitiba (PR) e Niterói
(RJ), e está prevista, para a partir de janeiro de 2026, a publicação de
um edital com bolsas de pesquisa destinadas a integrar moradores ao trabalho.
O
projeto Pacha (sigla em inglês para Análise Participativa para Adaptação
Climática e Saúde em Comunidades Urbanas Desfavorecidas no Brasil) tem
como coordenador-geral o cientista brasileiro João Porto de Albuquerque,
diretor do Urban Big Data Centre, da Universidade de Glasgow. O financiamento,
superior a R$ 14 milhões, é proveniente da fundação britânica Wellcome Trust,
uma entidade sem fins lucrativos que financia pesquisas na área de saúde e
mudanças climáticas.
São
parceiras da universidade britânica no Brasil a Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR), por meio do Programa de Pós-Graduação em Gestão
Urbana (PPGTU); a Fundação Getulio Vargas, por meio do Departamento de
Tecnologia e Ciência de Dados da Escola de Administração de Empresas de São
Paulo (FGV EAESP); e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Em
entrevista à Agência Brasil, o coordenador do Programa de Pós-Graduação em
Gestão Urbana (PPGTU) da PUC-PR, Paulo Nascimento, lembra que todos os
municípios brasileiros devem elaborar planos de adaptação e mitigação das
mudanças climáticas. O projeto Pacha, entretanto, parte da premissa de que os
dados que são gerados refletem muito mais a cidade formal do que as
favelas.
“Por
isso, todo o nosso esforço é construir uma base de dados produzida
coletivamente com os moradores dessas comunidades e, a partir disso, gerar
evidências que vão ajudar a revisar ou a olhar de outra forma esses planos de
ação climática”, disse.
Com
a escolha das três cidades brasileiras que serão estudadas, o projeto vai poder
abordar contextos climáticos muito diferentes, destaca Nascimento. O
estudo vai investigar como as comunidades urbanas estão trabalhando essa
questão e quais desafios enfrentam, dentro de uma perspectiva de criar
indicadores com a participação dos moradores. A ideia é verificar quais as
capacidades que essas comunidades já estão desenvolvendo e como os
pesquisadores podem aprender com elas.
Pesquisadores comunitários
O
professor da PUC-PR chamou a atenção que as favelas são vistas, em geral, pelo
olhar da precariedade, da ausência. “E o que a gente está tentando trazer
é, através dos moradores, aprender e ver quais os problemas que eles consideram
mais relevantes. Então, a ideia toda é a perspectiva de cocriação”.
Dentro
dessa ótica, o projeto vai conceder bolsas de doutorado e pós-doutorado e
também bolsas vinculadas, obrigatoriamente, a moradores dessas comunidades. “A
gente vai ter pesquisadores comunitários, vinculados ao projeto, mas que
são dessas comunidades envolvidas e que vão ser financiados por esse agente
britânico, com a perspectiva de o projeto ser construído coletivamente”.
Entre
o final de janeiro e o início de fevereiro de 2026, deverá ser lançado edital
para pesquisadores oriundos das favelas que desejem participar do projeto em
Curitiba, Natal e Niterói.
A
proposta é que esses pesquisadores tenham capacidade de engajar as
comunidades. “E que sejam replicadores do que for produzido para depois do
projeto. Ou seja, que o projeto vai terminar em algum momento, mas a capacidade
local fica com conhecimento do contexto”, afirmou Paulo Nascimento.
Desigualdade
Em
2022, de acordo com dados do Censo produzido pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), existiam no Brasil mais de 12 mil favelas,
com um total de 16,39 milhões de pessoas ─ 8,1% dos 203 milhões de habitantes
do país.
Essas
populações estão entre as mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas,
como chuvas intensas, deslizamentos de terra, enchentes e ondas de calor, uma
vez que convivem com moradias precárias e ausência de infraestrutura adequada.
O
projeto conta ainda com parceria de outras instituições científicas, entre as
quais a Fundação Oswaldo Cruz, pelo Centro de Integração de Dados em Saúde
(CIDACS/Fiocruz), que trabalha com a base de dados do CadÚnico com recortes de
raça, renda, gênero e idade. Isso vai permitir entender como esses diferentes
grupos, dentro das comunidades urbanas, estão expostos aos diferentes tipos de
riscos climáticos”, salientou Nascimento.
A
ideia é de uma perspectiva para o trabalho que seja feita de baixo para cima,
construindo capacidades comunitárias e, a partir disso, construir resultados
que sejam relevantes para cada comunidade e para o conjunto de favelas.
O
Pacha atuará na produção de dados para subsidiar políticas públicas a
considerar melhor as desigualdades sociais e ambientais, criando junto com as
comunidades um diagnóstico e indicadores que sejam relevantes para eles. O
resultado conclusivo do projeto deverá ser divulgado no final de 2027.
Na
primeira semana de dezembro, pesquisadores das universidades brasileiras se
reuniram em Natal com membros da Universidade de Glascow, com representantes da
Secretaria Nacional de Periferias, do Ministério das Cidades, e do Centro
Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), também
ligado ao governo federal, além de representantes das comunidades potiguares
que estão envolvidas na pesquisa.
“A
gente passou a semana inteira discutindo o desenho da pesquisa. Fizemos o
lançamento oficial no Rio Grande do Norte”.
Segundo
o pesquisador, a cada seis meses será feito um evento em alguma das três
cidades participantes, envolvendo as comunidades locais, para apresentar
resultados parciais.
Com
informações de Alana Gandra da Agência Brasil
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