(Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)
“Os
não indígenas não estão tendo noção do que estão destruindo, por isso, nós,
como povos indígenas, dentro de território, dentro da floresta, sabemos o que
pode acontecer se continuar destruindo”, afirmou o cacique kaiapó Raoni
Metuktire, que visitou nesta sexta-feira (27) a exposição Mekukradjá
Obikàrà: Com os Pés em Dois Mundos. A mostra está sendo instalada no
mezanino do Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, região metropolitana
do Rio.
Para
Raoni, a demarcação das terras dos povos originários, além de preservar a
natureza, é importante para manter as próprias culturas.
“Nossos
territórios são demarcados para poder manter tudo que tem dentro e preservar a
natureza. Dentro de um território, temos floresta, animais, rios e temos nossas
próprias culturas e tradições. Por isso, pensamos e pretendemos que continuemos
com a nossa vida como povos nativos dentro de floresta. Por isso, defendemos
nossa terra, a floresta. Por que defendemos o meio ambiente? Estamos vendo o
aquecimento global, está cada vez mais quente na Terra, está cada vez mais
secando rios, isso é muito preocupante para nós”, afirmou.
Raoni
considera as demarcações fundamentais também para as futuras gerações. “As nossas terras
demarcadas são para outras gerações. Eles têm que ter o território para
continuarem com a vida, a cultura e os costumes deles. Precisamos de território
para ter animais, precisamos dos rios, da floresta, das aves para continuar com
nossa vida dentro da floresta.”
A
mostra, que será aberta neste sábado (28) e vai até 26 de novembro, apresenta
adornos usados nas festas e rituais, fotos, vídeos, depoimentos e um acervo
produzido pela nova geração por meio do coletivo Beture, que é um movimento de
cineastas e comunicadores indígenas Mẽbêngôkre-Kayapó.
Segundo
o líder indígena, a mostra, que deixa evidente a ancestralidade de seu povo, é
também uma forma de manter a memória dos kaiapó. “Sim, tem que ser
mostrada a nossa cultura, mostrada também para os não indígenas, que são vocês,
para que vejam a nossa cultura viva, tenham respeito por nós, pelos povos
indígenas, a nossa terra. E essas fotos mostram [que é] para os jovens
continuarem com a cultura deles, origem ancestral, por isso, é importante
mostrar a nossa cultura para podermos mostrar para todos não indígenas e jovens
indígenas para continuarem com a cultura deles”, afirmou.
Raoni ficou satisfeito com o que viu. “Como a nossa cultura ainda é forte e ainda vive entre nós, estou vendo aqui essas fotos e muitas de recordações. Foram tiradas há muito tempo e hoje, nesse momento, está tendo a mostra dessas fotos. Vi que é muito importante mostrar a nossa cultura, nossa arte e nossa tradição, para motivar nossos jovens a continuarem com a cultura deles. Por isso, estou vendo e gostando muito desse trabalho que está sendo feito”, pontuou.
O
cacique kaiapó comentou ainda a importância da exposição em meio a tanta
discussão no país sobre o marco temporal das terras indígenas. “Quando
fazemos isso, e vocês fazem junto, mostramos a nossa vida para que eles possam
nos respeitar, respeitar, para não acontecer nada de ameaça contra nós”,
concluiu.
Patrocínio
A
exposição Mekukradjá Obikàrà: Com os Pés em Dois Mundos, é realizada pela
Petrobras, por meio do projeto Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), patrocinado
pelo Programa Petrobras Socioambiental, que tem a gestão do Fundo Brasileiro
para a Biodiversidade. De acordo com os organizadores, a Conservação Internacional
Brasil e as organizações representativas parceiras do projeto, os institutos
Kabu e Raoni e a Associação Floresta Protegida apoiam a iniciativa.
A
gerente de Planejamento de Responsabilidade Social e Direitos Humanos da
Petrobras, Sue Wolter, disse que é longa a história de investimentos
socioambientais da companhia, dentro do compromisso do desenvolvimento social
do país e da transformação das pessoas.
Sue
revelou que o Tradição e Futuro da Amazônia é um projeto de seleção pública na
linha de florestas, que é uma das quatro realizadas pela Petrobras. As outras
são oceano, desenvolvimento econômico sustentável e educação. O outro
compromisso da empresa é com projetos ligados ao respeito aos e direitos
humanos e à promoção dos direitos humanos, acrescentou.
“Tem
uma linha transversal em todos os projetos, que são de povos tradicionais,
povos indígenas e pescadores e populações menorizadas: LGBT, pessoas com
deficiência, população negra. Para a gente, é muito importante um olhar para
esses saberes. Uma das ações do projeto é resgatar e divulgar os saberes
tradicionais. É o que a gente está fazendo aqui. Hoje é o ápice dessa ação
dentro do projeto”, disse Sue Wolter em entrevista à Agência Brasil.
Ela
explicou que o projeto Tradição e Futuro na Amazônia é desenvolvido em cinco
terras indígenas com trabalhos de educação ambiental, agrofloresta para geração
de renda, estoque de carbono na região, saberes tradicionais e resgate
materializado na juventude, que faz a conversa com o tradicional e os meios de
comunicação e com os meios audiovisuais, preservando e divulgando todo esse
conhecimento. Esse projeto é de sucesso e vai ser renovado. “Ele vai continuar
por mais quatro anos, porque a gente tem todo um olhar muito especial para as
populações tradicionais.”
Agencia
Brasil/Berokanfm
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