(Fotos: Valter Campanato/Agência Brasil)
Uma equipe de servidores do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) tem sido ameaçada, nos últimos
dias, por grileiros em extensa área rural (de aproximadamente 1,5 mil
hectares), chamada de Antinha de Baixo, na cidade de Santo Antônio do
Descoberto (GO), a apenas 42 quilômetros de Brasília.
Os profissionais avaliam se o
território pode ser demarcado e titulado como remanescente quilombola. Para os
descendentes, o lugar é “Antinha dos Pretos”. Lideranças da comunidade
quilombola também se sentem ameaçadas (foto). Pesquisadores suspeitam que a
região possa ser considerada "terras raras", rica em minérios.
“A etapa do estudo antropológico (atualmente em
andamento) tem sido marcada por fortes ameaças contra os servidores do Incra-DF
e Entorno”, informou o órgão em documento enviado à Agência
Brasil.
O Incra não divulga os nomes dos autores das ameaças
e como procedem. Perguntado, o órgão disse que partiriam “de pessoas e grupos,
inclusive políticos, que têm interesses nessas terras”.
Para garantir a segurança dos servidores, o Incra
informou que procurou apoio das “instituições do sistema de justiça e forças de
segurança para acompanhar o processo investigativo por meio da Câmara Nacional
de Conciliação Agrária”.
Questionada sobre a denúncia do Incra, a
Polícia Militar do Estado de Goiás informou que atua de forma preventiva e
ostensiva. “Em relação ao fato mencionado, não recebeu nenhuma solicitação
formal, mas se coloca à disposição de qualquer interessado”, afirmou. A
Secretaria de Segurança Pública não respondeu os questionamentos da
reportagem.
Conflito
judicial
Liderança comunitária em Santo Antônio do
Descoberto, a professora Railda Oliveira testemunha que a equipe do Incra
precisou de apoio da Polícia Federal para fazer o trabalho de coleta de
material. “As pessoas estavam realmente ameaçadas na comunidade de
Antinha”.
Para os pesquisadores, tudo pode ser
importante. Rastros, pistas, reminiscências, documentos, inscrições,
informações orais e até cruz de cemitério.
O primeiro passo para o reconhecimento como
território quilombola foi dado por parte da comunidade ao solicitar o
autorreconhecimento pela Fundação Cultural Palmares.
O documento com o certificado da Fundação Palmares foi
publicado no dia 1º de agosto. Dois dias antes, uma decisão assinada pela
juíza Ailime Virgínia Martins determinava a desocupação de 32 imóveis da
comunidade.
A disputa judicial pela região começou na
década de 1940. O morador Francisco Apolinário Viana pediu que a terra
fosse regularizada no nome dele. Em 1985, mais três pessoas (Luiz Soares
de Araújo, Raul Alves de Andrade Coelho e Maria Paulina Boss) também entraram
na justiça. Lideranças da comunidade alegam que os documentos seriam falsos.
Maria Paulina era esposa de Emival Caiado. Com esse argumento, os descendentes
dessa família pediram a posse.
A comunidade reclamou que a decisão não levou
em conta o pedido de remeter o caso à Justiça Federal ao ignorar o protocolo
feito para a Fundação Palmares. No dia 5 de agosto, o ministro Edson Fachin, do
Supremo Tribunal Federal, havia decidido suspender a ordem de desocupação. O
caso passou a ser da alçada da Justiça Federal.
Só que pelo menos 10 casas foram destruídas
por homens em tratores a serviço de beneficiários da decisão. Membros da
comunidade apontaram que um fazendeiro chamado Murilo Caiado se apresentou
como proprietário da área e que teria dado ordens para tomar posse dos imóveis.
O empresário não foi localizado pela reportagem.
Outro beneficiário seria o irmão dele, o
desembargador Breno Caiado. A Agência Brasil também não conseguiu
contato com o magistrado.
Eles são primos do atual governador de Goiás,
Ronaldo Caiado. Por meio da assessoria de comunicação, o governo afirma
que Caiado não é parte do processo e que não cabe comentário sobre decisão
judicial.
O advogado Francisco Porfírio, de 56 anos,
que mora na região desde 2005 e é presidente da associação dos moradores, disse
que a derrubada foi traumática. “Resta entrar na Justiça para ser indenizado”,
afirmou enquanto levava móveis em uma caminhonete para a casa de um
familiar.
Luiz
Claudio Ferreira Agência Brasil
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